O desenvolvimento da linguagem é uma das áreas mais frequentemente afetadas em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A fala pode demorar a surgir, apresentar padrões atípicos ou, em alguns casos, não se desenvolver verbalmente. Essa dificuldade na comunicação é uma das principais razões pelas quais pais e cuidadores procuram avaliação especializada.
No entanto, é importante saber que, com o apoio adequado e intervenções individualizadas, muitas crianças com TEA conseguem desenvolver formas eficazes de comunicação — seja verbal ou alternativa — e melhorar significativamente suas interações sociais. Apoiar esse processo desde cedo é fundamental para o bem-estar da criança e da família.
Neste artigo, vamos explorar as principais características do desenvolvimento da linguagem em crianças autistas, os sinais que merecem atenção e, principalmente, as estratégias práticas para estimular a comunicação de forma eficaz e respeitosa.
Desenvolvimento da linguagem no TEA: o que é diferente?
Nem todas as crianças com autismo apresentam os mesmos desafios com a linguagem, mas há algumas características comuns:
- Atraso na fala: muitas crianças com TEA demoram mais para começar a falar do que o esperado para sua faixa etária.
- Ecolalia: repetição de palavras ou frases ouvidas, muitas vezes sem intenção comunicativa imediata.
- Fala roteirizada: uso repetitivo de frases aprendidas de vídeos, músicas ou interações anteriores.
- Dificuldade em iniciar ou manter conversas: mesmo crianças verbais podem apresentar limitações em interações espontâneas.
- Fala sem intenção social: a criança pode falar sozinha ou sem considerar o contexto do interlocutor.
- Dificuldades com linguagem não verbal: como expressões faciais, gestos, contato visual e entonação de voz.
É importante lembrar que algumas crianças com TEA desenvolvem linguagem normalmente ou até de forma precoce, mas têm dificuldades em utilizá-la de maneira funcional e social.
O papel da intervenção precoce
O cérebro da criança é extremamente plástico nos primeiros anos de vida. Isso significa que, quanto mais cedo a criança com TEA recebe suporte para desenvolver a linguagem e a comunicação, maiores são as chances de avanços significativos.
A intervenção precoce não precisa, necessariamente, esperar o diagnóstico fechado de autismo. Se houver sinais de atraso no desenvolvimento da linguagem, já é possível começar o acompanhamento com fonoaudiólogos e terapeutas especializados.
Estratégias práticas para apoiar o desenvolvimento da linguagem
Crie um ambiente rico em comunicação
Fale com a criança durante atividades do dia a dia, mesmo que ela ainda não responda verbalmente. Nomeie objetos, descreva ações, use frases curtas e claras. A exposição constante à linguagem ajuda a fortalecer a compreensão e amplia o vocabulário.
Use apoio visual
Imagens, cartões com figuras, rotinas ilustradas, objetos reais e gestos são excelentes recursos para complementar a linguagem verbal. Crianças com TEA costumam se beneficiar muito de estímulos visuais para compreender e se expressar melhor.
Respeite o tempo da criança
Evite pressionar ou interromper. Dê tempo para que ela tente responder ou se expressar, mesmo que de forma não verbal. Essa paciência é essencial para criar confiança e segurança.
Incentive a comunicação funcional
Priorize ensiná-la a se comunicar com propósito: pedir algo, recusar, indicar necessidades ou compartilhar emoções. Mesmo que a fala ainda não esteja presente, use gestos, aponte ou utilize recursos como o PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras) para promover esse tipo de comunicação.
Use interesses da criança como ponto de partida
Se a criança gosta de carros, dinossauros ou um personagem específico, use esses temas para promover a interação. A motivação pessoal é uma grande aliada no desenvolvimento da linguagem.
Evite linguagem muito complexa ou abstrata
Frases simples e diretas são mais eficazes para estimular a compreensão. Com o tempo, à medida que a criança avança, a complexidade pode ser aumentada gradativamente.
Valorize todas as tentativas de comunicação
Mesmo um olhar, gesto ou som devem ser reconhecidos e incentivados. A criança precisa sentir que está sendo compreendida e que sua forma de se expressar é válida.
Ofereça modelos corretos, sem corrigir de forma negativa
Se a criança disser uma palavra ou frase de forma incorreta, não diga que está errado. Apenas repita de forma correta e siga com a interação. Isso ajuda sem causar frustração.
O papel do fonoaudiólogo e da equipe multidisciplinar
O acompanhamento com um fonoaudiólogo especializado em TEA é essencial. Este profissional avaliará o perfil comunicativo da criança e definirá as estratégias mais eficazes para desenvolver sua linguagem, seja oral, alternativa ou suplementar.
Além disso, a atuação conjunta com terapeutas ocupacionais, psicólogos e pedagogos pode potencializar os ganhos, especialmente quando há integração entre os profissionais e a família.
Comunicação alternativa: uma aliada poderosa
Nem todas as crianças com TEA desenvolverão fala oral funcional. Isso não significa que estão condenadas ao silêncio. A comunicação alternativa, como o PECS, tablets com aplicativos de comunicação ou pranchas visuais, pode ser a ponte para uma vida mais autônoma e expressiva.
É importante entender que promover a comunicação por meios alternativos não atrasa a fala oral, pelo contrário, pode até estimular sua emergência.
O apoio da família faz toda a diferença
O envolvimento dos pais e cuidadores é um fator determinante no desenvolvimento da linguagem. A criança precisa de oportunidades diárias para se comunicar em casa, de forma natural, com afeto e respeito.
Participar das sessões de terapia, aplicar as orientações em casa, observar os progressos e desafios e manter uma rotina estruturada são atitudes que fazem grande diferença no progresso da criança.
A linguagem é muito mais do que falar: é se expressar, ser compreendido, se conectar com o mundo. Para crianças com TEA, esse caminho pode ser mais desafiador, mas com apoio, paciência, estratégias adequadas e muito afeto, é possível alcançar conquistas significativas.
Se você suspeita que seu filho tem dificuldades de linguagem ou comunicação, não hesite em buscar orientação especializada. Quanto antes o apoio começar, maiores são as chances de um desenvolvimento mais pleno e saudável.
Com quem você pode contar para saber mais sobre este assunto?
A Dra. Cláudia Pechini é Neurologista Infantil e possui Título de Especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). São anos de experiência nos cuidados com crianças e adolescentes a fim de garantir o pleno desenvolvimento de todas as suas habilidades.
Agende uma consulta para você ou seu pequeno e esclareça todas as suas dúvidas sobre o assunto!
Dra. Cláudia Pechini
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