O Transtorno do Espectro Autista (TEA) impacta diversas áreas do desenvolvimento infantil, especialmente as habilidades sociais e de comunicação, fundamentais para interações saudáveis e para a adaptação ao ambiente. Crianças com TEA podem apresentar desafios no entendimento e expressão de emoções, na comunicação verbal e não verbal e no desenvolvimento de relações com outras crianças e adultos.
No entanto, com estratégias de intervenção adequadas, é possível promover o desenvolvimento social dessas crianças, proporcionando-lhes melhores condições para explorar e fortalecer suas habilidades de interação e comunicação.
Neste artigo, abordaremos algumas estratégias práticas e eficazes para ajudar no desenvolvimento social de crianças com TEA, focando em atividades que podem ser implementadas tanto em casa quanto em ambientes terapêuticos e escolares.
Compreendendo o Desenvolvimento Social no TEA
O desenvolvimento social de crianças com TEA pode variar amplamente, uma vez que o espectro autista é muito diverso, e cada criança apresenta características e necessidades específicas. Em geral, elas podem ter dificuldade em:
- Entender e expressar emoções: compreender a própria emoção e a dos outros pode ser um desafio, assim como demonstrar afetos;
- Compreender normas sociais: padrões de comportamento como manter contato visual, turnos na fala e reações sociais comuns podem ser difíceis de assimilar;
- Iniciar e manter conversas: algumas crianças com TEA podem ter dificuldade para entender o contexto das conversas e identificar quando e como interagir;
- Interagir com outras crianças: preferir brincar sozinhas ou ter interesses específicos que dificultam a interação com outras crianças é comum.
A intervenção precoce e o uso de estratégias personalizadas são fundamentais para ajudar a criança a desenvolver as habilidades sociais, proporcionando-lhe mais oportunidades para explorar o ambiente e estabelecer conexões.
Estratégias para o Desenvolvimento Social de crianças com TEA
Abaixo estão algumas abordagens que podem ser adaptadas e aplicadas de acordo com o perfil e as necessidades da criança:
1. Uso de rotinas estruturadas e antecipação
As crianças com TEA, em geral, sentem-se mais confortáveis e seguras com rotinas estruturadas, nas quais sabem o que esperar. Essa previsibilidade ajuda a diminuir a ansiedade e torna o aprendizado de habilidades sociais mais acessível. Para o desenvolvimento social, criar rotinas de interação é uma maneira de incentivá-las a praticar habilidades específicas.
- Exemplo: estabelecer um horário para cumprimentar as pessoas, seguir rotinas de saudação e despedida e organizar horários de brincadeiras interativas.
Além disso, a antecipação, com o auxílio de explicações ou figuras ilustrativas, ajuda a criança a se preparar para interações novas ou ambientes sociais diferentes, como festas ou encontros com outras crianças.
2. Modelagem e imitação
A modelagem consiste em demonstrar para a criança como agir em determinadas situações sociais. Pode ser feita pelos pais, professores ou terapeutas, que agem como modelos ao demonstrar comportamentos sociais desejáveis e adequados. O processo de imitação é valioso para que a criança compreenda e incorpore esses comportamentos.
- Exemplo: se o objetivo é ensinar uma saudação, o adulto deve demonstrar a forma adequada de cumprimentar, dando um “oi” e fazendo contato visual breve, incentivando a criança a repetir.
Usar jogos de imitação, como brincadeiras de faz-de-conta e interpretação de papeis, também é uma ótima maneira de incentivar a criança a entender as expressões e as interações sociais, promovendo o aprendizado em um contexto lúdico.
3. Ensino de habilidades sociais específicas
Muitas crianças com TEA se beneficiam da aprendizagem de habilidades sociais em etapas. Esse método envolve dividir uma habilidade social complexa em partes menores e mais gerenciáveis, ensinando cada etapa de maneira estruturada.
- Exemplo: para ensinar a habilidade de pedir ajuda, a criança aprende primeiro a reconhecer que precisa de ajuda, depois a quem deve pedir e, por fim, como formular o pedido verbal ou não verbal.
Esse aprendizado por etapas ajuda a criança a internalizar as habilidades e a aplicá-las de maneira gradual e natural.
4. Uso de recursos visuais e histórias sociais
Recursos visuais, como cartões, desenhos e paineis de comunicação, ajudam a criança a compreender melhor as interações sociais. Eles podem ser usados para mostrar uma sequência de ações ou para explicar as emoções e os comportamentos esperados em diferentes situações.
As histórias sociais são outro recurso poderoso. Desenvolvidas por Carol Gray, as mesmas descrevem situações e interações sociais com uma narrativa simples e clara, facilitando o entendimento das regras sociais e o que é esperado em cada situação.
- Exemplo: uma história social que descreva uma visita ao parquinho pode ilustrar o que fazer quando encontrar outras crianças, como pedir para brincar, respeitar a vez do outro e reagir de maneira adequada.
5. Brincadeiras estruturadas e jogos de turno
Os jogos de turno ajudam a criança com TEA a entender a importância de esperar e participar de maneira organizada em uma atividade social. Esses jogos ensinam noções de cooperação, paciência e o valor do trabalho em equipe.
- Exemplo: jogos de tabuleiro simples, como o jogo da memória ou a brincadeira de passar a bola, incentivam a criança a aguardar sua vez e a interagir de maneira positiva com os outros.
Essas atividades estruturadas permitem que a criança experimente interações sociais de maneira controlada e segura, o que facilita o aprendizado.
6. Treinamento de reconhecimento emocional
O reconhecimento e a expressão das emoções são essenciais para o desenvolvimento social. O treinamento de reconhecimento emocional ajuda a criança a identificar emoções nas outras pessoas e nela mesma, uma habilidade fundamental para a empatia e para interações sociais saudáveis.
- Exemplo: usar cartões com faces mostrando diferentes emoções ou fotos de pessoas expressando alegria, tristeza, surpresa e raiva. A criança pode tentar nomear as emoções e relacioná-las com suas próprias experiências.
Outra técnica é utilizar espelhos para incentivar a criança a observar suas próprias expressões faciais enquanto faz caretas ou imita emoções específicas.
7. Incentivar interações com crianças de idades e habilidades diversas
O contato com outras crianças é essencial para o desenvolvimento social. A interação com pares que tenham níveis variados de habilidades sociais e de comunicação promove o aprendizado de novas formas de comportamento e a prática de habilidades sociais.
Para que essa interação seja bem-sucedida, é importante que haja mediação de adultos nos primeiros contatos, como pais, professores ou terapeutas, que podem ajudar a facilitar e orientar as interações.
- Exemplo: em atividades de grupo, como aulas de arte ou música, a criança pode aprender a observar, imitar e interagir com outras crianças, além de ser exposta a diferentes perspectivas e formas de comportamento social.
8. Reforço positivo e feedback imediato
O reforço positivo é fundamental para motivar a criança a repetir comportamentos desejáveis. Toda vez que ela conseguir aplicar uma habilidade social corretamente, é importante oferecer elogios específicos e feedback imediato para incentivá-la.
- Exemplo: se a criança cumprimenta outra pessoa ou espera sua vez para falar, os pais ou educadores podem elogiá-la com frases como “Adorei como você esperou sua vez! Muito bem!”.
O feedback ajuda a criança a identificar o comportamento desejado e a compreender a importância de mantê-lo.
Colaboração dos pais, educadores e terapeutas
As estratégias para o desenvolvimento social de crianças com TEA são mais eficazes quando há uma colaboração entre os familiares, educadores e terapeutas. O apoio conjunto oferece mais oportunidades para a criança praticar as habilidades sociais em diferentes ambientes e contextos.
Além disso, programas de treinamento parental podem ajudar os pais a aplicar essas estratégias em casa de forma eficaz, promovendo um ambiente estimulante e acolhedor para o desenvolvimento social.
Com quem você pode contar para saber mais sobre este assunto?
A Dra. Cláudia Pechini é Neurologista Infantil e possui Título de Especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). São anos de experiência nos cuidados com crianças e adolescentes a fim de garantir o pleno desenvolvimento de todas as suas habilidades.
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