O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. Dentro do espectro, algumas crianças podem apresentar dificuldades significativas na fala, sendo consideradas não verbais ou minimamente verbais. Isso não significa que elas não compreendam a linguagem ou que não tenham nada a expressar, mas sim que precisam de métodos alternativos para se comunicar.
A comunicação alternativa e aumentativa (CAA) surge como um conjunto de estratégias essenciais para auxiliar essas crianças a expressarem suas necessidades, sentimentos e pensamentos, promovendo maior independência e qualidade de vida. Neste artigo, vamos explorar as melhores formas de apoiar a comunicação de crianças com TEA não verbal e como essas ferramentas podem impactar positivamente o seu desenvolvimento.
O que é o TEA Não Verbal?
Crianças com TEA não verbal apresentam dificuldades significativas na aquisição da linguagem falada. Algumas delas podem emitir sons, balbucios ou palavras isoladas, mas não conseguem estabelecer uma comunicação funcional por meio da fala. Essas dificuldades podem ter diferentes origens, como desafios na coordenação motora da fala ou déficits na compreensão da linguagem verbal.
Entretanto, é fundamental destacar que a ausência da fala não significa ausência de comunicação. Crianças não verbais podem desenvolver formas alternativas de se expressar, desde gestos e expressões faciais até o uso de tecnologias e sistemas de símbolos.
O Papel da Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA)
A Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA) inclui qualquer forma de comunicação que substitua ou complemente a fala. Ela pode ser usada para ajudar crianças com TEA não verbal a se expressarem de maneira funcional e eficaz.
Existem diferentes tipos de CAA, e a escolha do método ideal deve ser baseada nas necessidades individuais da criança, considerando suas habilidades cognitivas, motoras e sensoriais.
Tipos de Comunicação Alternativa
Comunicação Gestual e Corporal
- Uso de gestos naturais, expressões faciais e movimentos corporais para indicar intenções e desejos.
- Algumas crianças podem aprender a usar a Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou sinais adaptados para se comunicar.
PECS (Picture Exchange Communication System – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras)
- Método baseado no uso de cartões com imagens, nos quais a criança aprende a trocar uma figura por um objeto ou ação desejada.
- É uma estratégia amplamente utilizada para crianças com TEA, pois facilita a associação entre símbolos e significados.
Pranchas e Aplicativos de Comunicação
- Uso de pranchas visuais com imagens ou palavras organizadas por categorias para que a criança possa apontar e escolher o que deseja comunicar.
- Aplicativos para tablets e celulares, como o Proloquo2Go, LetMeTalk e Avaz, permitem que a criança selecione símbolos para formar frases e expressar pensamentos.
Voz Sintetizada e Dispositivos Eletrônicos
- Algumas tecnologias utilizam a digitação de palavras ou a seleção de imagens para converter o texto em fala, ajudando crianças a se comunicarem de maneira mais fluida.
Comunicação por Escrita ou Desenhos
- Para crianças que conseguem desenhar ou escrever, essa pode ser uma forma eficaz de expressar ideias e emoções.
Benefícios da comunicação alternativa para crianças com TEA não verbal
Implementar um sistema de comunicação alternativa pode trazer diversas vantagens para crianças com TEA, como:
✅ Redução da frustração e dos comportamentos desafiadores – Quando a criança consegue se expressar, ela se sente menos frustrada, reduzindo crises e comportamentos agressivos;
✅ Maior independência – A capacidade de comunicar desejos e necessidades promove autonomia em situações do dia a dia;
✅ Melhoria nas interações sociais – Com um meio eficaz de comunicação, a criança pode se conectar melhor com pais, professores e colegas;
✅ Apoio ao desenvolvimento da linguagem – Em alguns casos, a CAA pode atuar como um trampolim para o desenvolvimento da fala, ajudando a criança a compreender melhor os conceitos linguísticos.
Dicas para estimular a comunicação alternativa com TEA não verbal
1. Respeite o Tempo e a Individualidade da Criança
- Cada criança tem seu próprio ritmo de aprendizado. É importante ser paciente e celebrar pequenas conquistas, sem pressionar a criança a usar um método específico.
2. Use Recursos Visuais no Dia a Dia
- Crie um quadro de rotina visual com imagens que representem as atividades do dia.
- Utilize pictogramas para ajudar na comunicação de necessidades básicas, como fome, sede ou ir ao banheiro.
3. Incentive o Uso Funcional da Comunicação
- Ensine a criança a usar o PECS ou pranchas de comunicação para pedir brinquedos, alimentos ou interagir com outras pessoas.
- Sempre valorize qualquer tentativa de comunicação, seja por gestos, olhares ou apontamentos.
4. Torne a Comunicação Divertida e Natural
- Utilize a CAA em brincadeiras e atividades do interesse da criança.
- Se a criança gosta de música, use símbolos para ela escolher qual música quer ouvir.
5. Envolva a Família e a Escola
- A comunicação alternativa deve ser utilizada tanto em casa quanto na escola para que a criança a incorpore no seu dia a dia.
- Professores e cuidadores devem ser orientados a incentivar o uso das ferramentas de comunicação.
6. Busque Apoio Profissional
- Ter acompanhamento de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e neuropediatras é essencial para encontrar a melhor abordagem para cada criança.
- Profissionais especializados podem ajudar a adaptar e evoluir as estratégias de comunicação conforme a criança desenvolve novas habilidades.
A ausência da fala não deve ser uma barreira para a comunicação de crianças com TEA não verbal. A comunicação alternativa e aumentativa oferece um caminho para que essas crianças possam expressar seus sentimentos, desejos e necessidades, promovendo maior independência e qualidade de vida.
Com a adoção de métodos como PECS, pranchas de comunicação, gestos e aplicativos, é possível abrir novas portas para a interação social e o desenvolvimento cognitivo. O mais importante é garantir que a criança tenha um meio eficaz de se comunicar, respeitando seu ritmo e suas preferências.
Se houver dúvidas sobre qual método utilizar, a orientação de um profissional especializado pode fazer toda a diferença na escolha das melhores estratégias para apoiar a comunicação da criança.
A comunicação é um direito de todos – e com as ferramentas adequadas, crianças com TEA não verbal podem encontrar suas próprias formas de se expressar e se conectar com o mundo ao seu redor.
Com quem você pode contar para saber mais sobre este assunto?
A Dra. Cláudia Pechini é Neurologista Infantil e possui Título de Especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). São anos de experiência nos cuidados com crianças e adolescentes a fim de garantir o pleno desenvolvimento de todas as suas habilidades.
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