Uma crise epiléptica é um momento de extrema preocupação tanto para quem a vivencia quanto para quem está ao redor. Muitas vezes, a falta de informação sobre o que fazer durante uma crise leva ao desespero e até a medidas inadequadas, que podem causar mais danos do que benefícios. Entender como agir corretamente é essencial para garantir a segurança da pessoa que está em crise e para proporcionar um ambiente de cuidado e proteção.
Neste artigo, vamos abordar o que fazer e o que evitar durante uma crise epiléptica. O objetivo é fornecer informações claras e práticas sobre primeiros socorros, para que qualquer pessoa possa prestar assistência de forma segura e eficaz.
O que é epilepsia e como reconhecer uma crise?
A epilepsia é um distúrbio neurológico crônico caracterizado por episódios recorrentes de atividade elétrica anormal no cérebro, conhecidos como crises epilépticas. Estas podem ter diferentes manifestações, variando de breves momentos de desatenção a movimentos bruscos e involuntários do corpo, conhecidos como convulsões.
Existem vários tipos de crises epilépticas, mas a mais conhecida é a crise tônico-clônica generalizada, em que a pessoa perde a consciência, cai no chão e apresenta espasmos musculares intensos.
Outro tipo comum são as crises de ausência, nas quais a pessoa parece estar “desligada” do ambiente por alguns segundos. Reconhecer uma crise epiléptica e saber como responder é fundamental para prestar o primeiro socorro de forma eficaz e segura.
O que fazer durante uma crise epiléptica?
Durante uma crise epiléptica, agir rapidamente e de maneira adequada é essencial para proteger a pessoa em crise. Aqui estão os passos recomendados:
1. Manter a Calma
Manter a calma é o primeiro passo para lidar com a situação de forma adequada. Isso ajudará a criar um ambiente seguro e a tomar decisões rápidas e corretas;
2. Afaste objetos que podem causar lesões
Durante uma crise tônico-clônica, a pessoa pode se mover de forma descontrolada, aumentando o risco de ferimentos. Afaste objetos pontiagudos ou pesados que estejam próximos e que possam causar lesões;
3. Proteja a cabeça
Coloque a pessoa deitada numa superfície plana e segura, evitando impactos com o chão ou outros objetos. Em seguida, lateralize sua cabeça para evitar broncoaspiração.
4. Acompanhe a crise e marque a duração
As crises epilépticas geralmente duram de 1 a 3 minutos. Utilize um relógio ou cronômetro para marcar o tempo. Se a crise durar mais de 5 minutos, é necessário buscar ajuda médica urgente, pois isso caracteriza uma emergência chamada status epilepticus;
5. Permaneça ao lado da pessoa até que ela recupere a consciência
Mesmo depois que os movimentos convulsivos cessam, a pessoa pode ficar confusa, sonolenta ou desorientada. Fique com ela até que recupere a consciência completamente e esteja em um ambiente seguro. Pode ser útil tranquilizá-la com uma voz calma, explicando o que aconteceu. Ela pode sentir necessidade de dormir por várias horas seguidas, para se restabelecer.
6. Chame ajuda médica se necessário.
Ligue para o SAMU (192) ou para um serviço de emergência se:
- A crise durar mais de 5 minutos;
- A pessoa tiver várias crises seguidas sem recuperar a consciência entre elas;
- A pessoa estiver grávida ou for portadora de alguma outra condição médica que possa ser agravada pela crise;
- A pessoa se machucou durante a crise (corte, fratura, etc.);
- Esta for a primeira crise epiléptica conhecida da pessoa.
O que evitar durante uma crise epiléptica
Apesar das boas intenções, algumas ações podem ser prejudiciais à pessoa durante uma crise epiléptica. Aqui estão os pontos mais importantes sobre o que não fazer:
1. Não tente segurar a pessoa ou restringir seus movimentos
Tentar segurar a pessoa durante uma convulsão pode causar lesões, tanto nela quanto em quem está tentando ajudar. A melhor abordagem é garantir que ela não se machuque com objetos ao redor, mas não restringir seus movimentos;
2. Não coloque nada na boca da pessoa
Um dos maiores mitos sobre primeiros socorros em crises epilépticas é a ideia de que se deve colocar algo na boca da pessoa para evitar que ela engula a língua. Isso é perigoso e pode causar sufocamento ou ferimentos graves. Durante uma crise epiléptica, a pessoa não engole a língua. Colocar qualquer objeto na boca pode, além disso, danificar os dentes ou provocar o rompimento de tecidos da boca;
3. Não tente dar líquidos ou medicamentos
Durante uma crise, a pessoa não está consciente e não conseguirá engolir. Nunca tente dar água, comida ou medicamentos durante a crise, pois há risco de sufocamento;
4. Não tente acordar a pessoa ou movê-la desnecessariamente
Durante a fase ativa da crise, a pessoa está inconsciente, e qualquer tentativa de acordá-la será ineficaz e pode até prejudicar o processo. Além disso, não a mova, a menos que esteja em um lugar perigoso, como uma rua ou próximo a uma escada.
Como ajudar após a crise
Após a crise, a pessoa geralmente passa por uma fase de recuperação chamada período pós-ictal. Durante essa fase, é comum sentir confusão, sonolência, dores musculares e até alguma dificuldade em se lembrar do que aconteceu.
Aqui estão algumas ações para ajudar após a crise:
- Converse calmamente com a pessoa, assegurando-a de que está tudo bem. É comum a pessoa se sentir desorientada e assustada após a crise;
- Forneça apoio enquanto a pessoa se recupera. Muitas vezes, pode ser necessário ajudá-la a sentar ou a se levantar lentamente;
- Ofereça um ambiente seguro e tranquilo. Evite aglomerações e barulhos excessivos, pois a pessoa precisará de um tempo para se recuperar totalmente.
Saber como agir durante uma crise epiléptica faz toda a diferença para garantir a segurança e o bem-estar da pessoa que está passando por essa experiência. Manter a calma, protegê-la de possíveis perigos e não realizar intervenções inadequadas, como tentar segurar ou colocar algo na boca, são atitudes fundamentais para prestar o primeiro socorro de forma eficaz.
A epilepsia pode ser desafiadora, mas com conhecimento e apoio adequado, é possível lidar com as crises e proporcionar segurança e conforto tanto para quem vive com a condição quanto para seus familiares e amigos.
Com quem você pode contar para saber mais sobre este assunto?
A Dra. Cláudia Pechini é Neurologista Infantil e possui Título de Especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). São anos de experiência nos cuidados com crianças e adolescentes a fim de garantir o pleno desenvolvimento de todas as suas habilidades.
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