É comum ouvir pais ou familiares comentarem que o bebê é “calminho demais”, “preguiçoso” para se mexer, “atrasado” para rolar, sentar ou engatinhar. Em muitos casos, essas observações refletem apenas o temperamento natural da criança — afinal, cada bebê tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. No entanto, há situações em que essa “preguiça” aparente pode indicar sinais precoces de algum problema neurológico ou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Identificar esses sinais precocemente é essencial para garantir que o bebê receba a estimulação e os cuidados adequados no tempo certo, aproveitando o período de maior plasticidade cerebral.
O que é considerado “normal” no desenvolvimento motor de um bebê?
O desenvolvimento motor é um dos principais indicadores do amadurecimento neurológico infantil. Existem marcos esperados para cada faixa etária, embora haja uma variação individual dentro de limites considerados normais.
Alguns marcos comuns incluem:
- Até 3 meses: o bebê começa a sustentar a cabeça, movimentar braços e pernas de forma espontânea, e acompanhar objetos com os olhos.
- Aos 4 a 6 meses: deve começar a rolar, interagir mais com o ambiente, levar as mãos à boca e sustentar o tronco com apoio.
- Aos 7 a 9 meses: espera-se que o bebê sente sem apoio, arraste-se ou comece a engatinhar, e interaja de forma ativa com brinquedos.
- Aos 10 a 12 meses: muitos bebês já ficam de pé com apoio e alguns até começam a dar os primeiros passos.
Quando esses marcos não são alcançados ou são atingidos muito tardiamente, é importante investigar.
Sinais de alerta: quando a “calmaria” deixa de ser normal.
Embora um bebê mais quieto não signifique automaticamente que há um problema, certos sinais merecem atenção, especialmente se forem persistentes ou acompanhados de outros comportamentos incomuns. Entre os principais sinais de alerta estão:
- Pouca movimentação espontânea (braços e pernas imóveis por longos períodos);
- Tônus muscular alterado: bebê muito “molinho” (hipotonia) ou muito rígido (hipertonia);
- Dificuldade ou atraso em manter a cabeça firme após os 3 meses;
- Atraso para alcançar objetos ou dificuldade em levá-los à boca;
- Desinteresse visual ou auditivo pelo ambiente;
- Atraso na rotação, no sentar, no engatinhar ou no andar;
- Pouca ou nenhuma vocalização, mesmo com estímulo.
Esses comportamentos, especialmente se combinados, indicam a necessidade de avaliação médica.
Possíveis causas por trás da “preguiça” motora
Existem diversas condições que podem estar por trás de um atraso motor em bebês. Algumas das mais comuns incluem:
- Hipotonia congênita: caracterizada por tônus muscular baixo desde o nascimento, podendo estar associada a síndromes genéticas, distúrbios neuromusculares ou outras condições.
- Paralisia cerebral: resultado de uma lesão cerebral que afeta a coordenação motora e pode ser percebida por rigidez, fraqueza ou assimetrias nos movimentos.
- Doenças neuromusculares: como a Atrofia Muscular Espinhal (AME), que compromete a força e o movimento muscular progressivamente.
- Transtornos genéticos e metabólicos: que interferem no funcionamento neurológico e no desenvolvimento global.
- Prematuridade extrema ou complicações no parto: que podem afetar o desenvolvimento neurológico do bebê.
Nem todo bebê “quietinho” terá uma condição grave, mas é importante lembrar que o diagnóstico precoce, quando necessário, pode mudar completamente o prognóstico.
O papel do neuropediatra na investigação
Quando os pais percebem que o bebê é “parado demais” ou que não acompanha o desenvolvimento dos colegas da mesma idade, é importante buscar uma avaliação profissional. O neuropediatra é o especialista indicado para investigar possíveis alterações neurológicas, realizar exames quando necessário e encaminhar para terapias específicas.
Durante a consulta, o médico avaliará o histórico gestacional e de parto, os marcos de desenvolvimento, a qualidade dos movimentos, o tônus muscular e os reflexos primitivos. Dependendo dos achados, exames como ressonância magnética, eletroneuromiografia ou testes genéticos podem ser solicitados.
Intervenção precoce: a chave para melhores resultados.
Se houver confirmação de algum atraso ou condição neurológica, quanto mais cedo começar a intervenção, melhor. O cérebro do bebê tem grande capacidade de adaptação nos primeiros anos de vida — é o que chamamos de neuroplasticidade. Isso significa que, mesmo diante de um diagnóstico desafiador, a criança pode aprender, desenvolver-se e ter uma boa qualidade de vida, desde que receba o suporte certo no tempo certo.
As principais abordagens incluem:
- Fisioterapia motora e neurológica;
- Terapia ocupacional;
- Fonoaudiologia (quando há atrasos de linguagem ou dificuldades de alimentação);
- Estimulação precoce multidisciplinar;
- Orientações e apoio à família para continuidade dos estímulos em casa.
E quando for apenas o jeito da criança?
Nem toda criança que se movimenta menos ou é mais introspectiva está com algum problema. Assim como há adultos mais ativos ou mais tranquilos, o temperamento dos bebês também varia. No entanto, isso não deve impedir os pais de investigarem dúvidas. Observar o contexto e o conjunto de sinais é fundamental.
Um bebê calmo, mas que responde bem aos estímulos, interage, alcança os marcos motores dentro do esperado e evolui com consistência geralmente não apresenta alterações preocupantes.
A ideia de que um bebê “quietinho” ou “preguiçoso” está apenas demonstrando um temperamento tranquilo pode, em alguns casos, atrasar o reconhecimento de condições importantes. Por isso, a observação cuidadosa e o acompanhamento com profissionais de saúde nos primeiros meses de vida são fundamentais.
Se você, pai ou mãe, sente que algo “não está certo” com o desenvolvimento do seu bebê, confie na sua intuição e converse com o pediatra ou neuropediatra. Detectar precocemente qualquer alteração é a melhor forma de garantir um futuro mais saudável, autônomo e feliz para a criança.
Com quem você pode contar para saber mais sobre este assunto?
A Dra. Cláudia Pechini é Neurologista Infantil e possui Título de Especialista em Neurologia Infantil pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB). São anos de experiência nos cuidados com crianças e adolescentes a fim de garantir o pleno desenvolvimento de todas as suas habilidades.
Agende uma consulta para você ou seu pequeno e esclareça todas as suas dúvidas sobre o assunto!
Dra. Cláudia Pechini
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